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Professores de escolas marajoaras participam de capacitação do IFPA Campus Breves sobre questões étnicos-raciais

  • Publicado: Quarta, 31 de Março de 2021, 14h47
  • Última atualização em Quarta, 31 de Março de 2021, 14h58
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As questões étnico-raciais, como defendem pesquisadores, pesquisadoras e ativistas que problematizam a temática, precisam ser discutidas ao longo de todo ano. Coincidentemente, em março, duas datas marcam as lutas desses povos: dia 21, com o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, e 25, Dia Internacional em Memória das Vítimas da Escravidão e do Comércio Transatlântico de Escravos. Como forma de reforçar a importância da promoção da equidade racial dos povos afro-indígenas que vivem no Marajó, este mês, 35 professores e professoras de escolas públicas marajoaras participaram da capacitação ofertada por meio do Projeto de Extensão “Educando pelos rios marajoaras: ações e estratégias para promoção da equidade racial durante a pandemia (Covid 19)”, contemplado pelo Edital 04/2020 do PROEXTENSÃO IFPA.

A programação de 40 horas, composta por formações, oficinas e minicursos, teve o objetivo de trabalhar as temáticas racial, educação e racismo, memória e história dos povos afro-brasileiros e indígenas, além de relacionar os temas à pandemia do novo coronavírus e debater o desenvolvimento de produtos didático-pedagógicos para estimular a incorporação da temática à sala de aula. De 16 a 26 de março, os professores das escolas Gerson Peres, Professor Estevão Gomes e Bom Jesus, todas localizadas no município de Breves, se aprofundaram sobre essas questões a partir de encontros virtuais síncronos, atividades realizadas por meio do ambiente virtual do Google Sala de Aula, conversações em grupo no WhatsApp, e materiais textuais e audiovisuais focados na discussão das temáticas.

Para Rutinéia Santos da Silva, professora de História e de Estudos Amazônicos na Escola Estêvão Gomes, a Lei 10.639/2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", mesmo depois de 18 anos, ainda não é implementada na sua totalidade em diversos sistemas de ensino. “No Marajó, mais especificamente nos municípios de Portel e Breves, onde estive atuando, não percebi a discussão da temática logo que cheguei, em 2014, inclusive ouvia pessoas negando a participação de sociedades indígenas na formação da região. Daí, afirmo que essa capacitação foi muito necessária, pois a partir dela, muitos docentes poderão criar estratégias para adaptar suas disciplinas ao cumprimento da lei, que será mais exitosa, a partir da formação continuada”, destacou.

A crise sanitária e humanitária, ocasionada pelo novo coronavírus, fez emergir, além das dificuldades oriundas das condições socioeconômicas específicas da região do Marajó, a urgência de refletir sobre as questões étnico-raciais para além do currículo, incorporando, ainda, a  gestão e infraestrutura do ensino público brasileiro. “Em tempos de pandemia, não podemos esquecer que a maior parte de povo que está padecendo é nosso povo preto. O racismo fica mais evidenciado principalmente tratando-se em educação, pois a abrangência dos meios de aprendizagem de ensino a distância não chega nessa camada social desfavorecida e a capacitação me fez resgatar dentro de mim a bandeira de luta na qual me propus carregar durante minha vida docente. Sei na pele o quanto uma educação antirracista já me fez falta e hoje a levo como fonte de ferramenta para uma educação de qualidade na formação pedagógica, social e acolhedora para combater essa sociedade racista, homofóbica e sexista”, declarou a professora Terezinha Michelli do Rosário, que ministra Ensino religioso escolar na escola Bom Jesus.

Apesar da capacitação envolver três escolas, a repercussão foi grande e despertou a demanda em outros municípios do Marajó, como Salvaterra. A infraestrutura de telecomunicação, as limitações no acesso à internet e a restrita familiaridade dos docentes com os recursos tecnológicos foram alguns desafios enfrentados pelo projeto, conforme esclarece a professora Ana Célia Guedes, coordenadora do projeto, que destaca a problemática relacionada à alta demanda por capacitações como essa. “Os participantes pediram que fizéssemos outros cursos com essa temática e chamássemos mais escolas, porque há uma tendência dos profissionais da educação negarem o racismo em sala de aula. Isso se dá, porque, quando a gente nega, a gente não vai combater. Outro ponto interessante foi que uma professora afirmou que ela esperava esse pontapé de capacitação de outra instituição e não do IFPA. Isso me fez pensar o quanto é preciso o IFPA desmitificar a ideia de que somos apenas ensino técnico, não que ele não seja importante, mas precisamos que a sociedade perceba que aqui também tem discussão de humanidades, que são tão importantes quanto as outras”, ressaltou.

A capacitação é uma das etapas do Projeto de Extensão, realizado em parceria com o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do IFPA Campus Breves e do IFPA Abaetetuba, com o IFPA Paragominas, a Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC-PA) e o Projeto de Extensão Diálogos Amazônicos. Com os dados obtidos por meio das interações com os professores, associados a outros oriundos de diferentes ferramentas de coleta, a intenção é desenvolver produtos pedagógicos educacionais e metodologias inovadoras para melhorar a qualidade da educação escolar ofertada aos povos afro-indígenas que vivem no Marajó.

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